O JOGO NA EDUCAÇÃO: ASPECTOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS DO JOGO NA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA[i]
Profª Drª Regina Célia Grando
As crianças,
desde os primeiros anos de vida, gastam grande parte de seu tempo brincando,
jogando e desempenhando atividades lúdicas. Os adultos têm dificuldades de
entender que o brincar e o jogar, para a criança, representam sua razão de
viver, onde elas se esquecem de tudo que as cerca e se entregam ao fascínio da
brincadeira.
Muitos pais consideram que a brincadeira representa um prêmio e
não é compreendida como uma necessidade da criança. A criança pode começar a se
desinteressar pelas atividades escolares, pois estas representam um empecilho à
brincadeira, uma forma de punição.
Ao ser observado o comportamento de uma criança em situações de
brincadeira e/ou jogo percebe-se o quanto ela desenvolve sua capacidade de
resolver problemas.
2.1- Jogo
desenvolvimento
A psicologia do desenvolvimento destaca que a brincadeira e o
jogo desempenham funções psicossociais, afetivas e intelectuais básicas no
processo de desenvolvimento infantil. O jogo se apresenta como uma atividade
dinâmica que vem satisfazer uma necessidade da criança.
O jogo propicia um ambiente favorável ao interesse da criança
pelo desafio das regras impostas por uma situação imaginária que pode ser
considerada como um meio para o desenvolvimento do pensamento abstrato.
É fundamental inserir as
crianças em atividades que permitam um caminho que vai da imaginação à
abstração de estratégias diversificadas de resolução dos problemas em jogo. O
processo de criação está diretamente relacionado à imaginação.
É a estrutura da atividade de jogo que permite o surgimento de
uma situação imaginária.
É no jogo e pelo jogo que a criança é capaz de atribuir aos
objetos significados diferentes; desenvolver a sua capacidade de abstração e
começar a agir independentemente daquilo que vê, operando com os significados
diferentes da simples percepção dos objetos.
O jogo depende da imaginação e é a partir desta situação
imaginária que se traça o caminho à abstração.
O jogo pode representar uma simulação matemática na medida em
que se caracteriza por ser uma situação irreal, criada para significar um
conceito matemático a ser compreendido pelo aluno.
Não se pode apenas observar um fenômeno matemático acontecendo
e tentar explicá-lo, como acontece com a maioria dos fenômenos físicos ou
químicos. A matemática existe no pensamento humano e depende de muita
imaginação para definir suas regularidades e conceitos.
É necessário que a escola esteja à importância do processo
imaginativo na constituição do pensamento abstrato.
Nos jogos simbólicos, ocorre a representação pela criança, do
objeto ausente, já que se estabelece uma comparação entre um elemento real, o
objeto e um elemento imaginado, o que ele corresponde, através de uma
representação fictícia.
A
regra estabelece o movimento a ser conferido ao jogo. O mais importante é que
além da regra, as jogadas dos adversários também representam um limitador,
definindo uma interdependência entre as várias jogadas.
O planejamento no jogo de regras é definido pelas várias
antecipações e construções de estratégias.
2.2 – Jogo no
ensino da matemática
Ao analisarmos os atributos e/ou características do jogo que
pudessem justificar sua inserção em situações de ensino, evidencia-se que este
representa uma atividade lúdica, que envolve o desejo e o interesse do jogador
pela própria ação do jogo, e envolve a competição e o desafio que motivam o
jogador a conhecer seus limites e suas possibilidades de superação de tais
limites, na busca da vitória, adquirindo confiança e coragem para se arriscar.
Quando são propostas atividades com jogos para alunos, a reação
mais comum é de alegria e prazer pela atividade a ser desenvolvida. O interesse
pelo material do jogo, elas regras ou pelo desafio proposto envolvem o aluno,
estimulando-o à ação.
É necessário que a atividade de jogo proposta, represente um
verdadeiro desafio ao sujeito despertando-o para a ação, para o envolvimento
com a atividade, motivando-o ainda mais.
O jogo, pelo seu caráter propriamente competitivo, apresenta-se
como uma atividade capaz de gerar situações-problemas provocadoras, onde o
sujeito necessita coordenar diferentes pontos de vista, estabelecer várias
relações, resolver conflitos e estabelecer uma ordem.
As crianças pequenas aprendem muito, apenas com a ação nos
jogos.
Para o adolescente, onde a cooperação e interação no grupo
social são fontes de aprendizagem, as atividades com jogos de regras
representam situações bastante motivadoras e de real desafio.
Quando nos referimos à utilização de jogos nas aulas de
matemática como um suporte metodológico, consideramos que tenha utilidade em
todos os níveis de ensino. O importante é que os objetivos com o jogo estejam
claros, a metodologia a ser utilizada seja adequada ao nível que se está
trabalhando e, principalmente, que represente uma atividade desafiadora ao
aluno para o desencadeamento do processo.
É na ação do jogo que o sujeito, mesmo que venha a ser
derrotado, pode conhecer-se, estabelecer o limite de sua competência enquanto
jogador e reavaliar o que precisa ser trabalhado, desenvolvendo suas
potencialidades, para evitar uma próxima derrota.
Considera-se que o jogo, em seu aspecto pedagógico, se
apresenta produtivo ao professor que busca nele um aspecto instrumentador, e,
portanto, facilitador na aprendizagem de estruturas matemáticas, muitas vezes
de difícil assimilação, e também produtivo ao aluno, que desenvolveria sua
capacidade de pensar, refletir, analisar, compreender conceitos matemáticos,
levantar hipóteses, testá-las e avaliá-las com autonomia e cooperação.
Portanto, situações que propiciem à criança uma reflexão e
análise do seu próprio raciocínio, que esteja fora do objeto, nos níveis já
representativos, necessitam ser valorizados no processo de ensino-aprendizagem
da matemática e o jogo demonstra ser um instrumento importante na dinamização
desse processo.
A competição inerente aos jogos garante-lhes o dinamismo, o
movimento, propiciando um interesse e envolvimento naturais do aluno e
contribuindo para seu desenvolvimento social, intelectual e afetivo.
2.3 – Cooperação
no jogo de regras
O
desenvolvimento da criatividade é resultante da ação do indivíduo no jogo, onde
ele exerce seu poder criador, elaborando estratégias, regras e cumprindo-as. No
contexto do jogo, ele se insere num mundo de fantasia, irreal, criado por ele,
onde exerce um certo poder e é capaz de criar.
Não se pode negar a importância dos jogos no desenvolvimento da
criatividade, já que eles representam a própria criação humana, que vem
satisfazer a necessidade do indivíduo de conhecimento da realidade, pelo prazer
propiciado pelas atividades lúdicas.
O jogo propicia o desenvolvimento de estratégias de resolução
de problemas na medida em que possibilita a investigação.
Analisando a relação entre o jogo e a resolução de problemas,
ambos enquanto estratégias de ensino, evidenciam-se vantagens no processo de
criação e construção de conceitos, quando possível, através de uma ação comum
estabelecida a partir da discussão matemática entre os alunos e entre o
professor e os alunos.
Para efeito de se trabalhar com jogos numa perspectiva de
resolução de problemas, estas etapas se confundem, pois, muitas vezes, o aluno,
na situação de jogo, só compreende o problema depois que o executa e a
avaliação de uma jogada pode vir a acontecer depois de muitas outras jogadas.
A inserção de jogos no contexto de ensino-aprendizagem implica
em vantagens e desvantagens por inúmeros estudiosos:
Para a atividade
de jogo em ambiente escolar, a combinação jogo com a linguagem de programação
pode vira facilitar o trabalho do professor-orientador da ação, na medida em
que possibilita o resgate das estratégias de jogo, a partir do programa do
aluno.
2.4 – A análise
de possibilidades no jogo de regras
Diante das situações-problema de jogo que se apresentam ao
sujeito, quando ele age sobre o jogo e o constante desafio em vencê-lo, novos
espaços para a elaboração de estratégias de jogo são abertos. A análise de
possibilidades é marcada por tomada de decisões sobre quais estratégias
poderiam ser eficazes.
Os jogos de estratégia favorecem a construção e a verificação
de hipóteses. As possibilidades de jogo são construídas a partir destas
hipóteses que vão sendo elaboradas pelos sujeitos.
2.5 – O erro na
situação de jogo
É possível a um jogador errar em uma jogada, não optando pela
melhor, e, obter a vitória no jogo. A constatação sobre o conjunto de jogadas
mal realizadas, ao final de um jogo em que o sujeito perde para o adversário,
pode levá-lo a refletir sobre ações realizadas e elaborar estratégias a fim de
vencer o jogo, resolver o problema.
Após a constatação de um fenômeno, ou mesmo a construção de um
sistema, os erros obtidos durante o processo são repensados, reformulados e abolidos,
dando lugar ao rigor na apresentação.
A análise do erro do aluno e a construção das estratégias de
resolução dos problemas de jogo fornecem ao professor subsídios para a
sistematização dos conceitos trabalhados durante a situação de jogo.
O processo de sistematização dos conceitos e/ou habilidades do
pensamento matemático que vão emergindo no decorrer das situações de jogo deve
ser desencadeado pelo profissional responsável pela intervenção pedagógica com
os jogos.
2.6 – Momentos de
jogo
1º ) Familiarização com
o material do jogo;
2º) Reconhecimento das
regras;
3º) O jogo pelo jogo,
4º) Intervenção
pedagógica verbal;
5º) Registro do jogo;
6º) Intervenção escrita;
7º) Jogar com
competência.
2.7 – Cálculo
mental e jogo
A importância
da habilidade de cálculo mental é apontada por vários autores como sendo
necessária para uma significativa compreensão do número e de suas propriedades,
estabelecimento de estimativas e para o uso prático nas atividades cotidianas.
Além disso, a habilidade com o cálculo mental pode fornecer notável
contribuição à aprendizagem de conceitos matemáticos e ao desenvolvimento da
aritmética.
O cálculo mental está centrado no fato de que um mesmo cálculo
pode ser realizado de diferentes formas.
O mais importante ao cálculo mental é a reflexão sobre o
significado dos cálculos intermediários, facilitando a compreensão das regras
que determinam os algoritmos do cálculo escrito.
As estratégias de cálculo mental utilizada pelos sujeitos no
seu cotidiano são, na maioria das vezes, bem diferentes dos métodos de cálculo
aprendidos em aritmética, na escola. As estratégias representam um plano, um
método ou uma série de ações a fim de obter um objetivo específico, resolver um
cálculo mental. A matemática escolar valoriza o cálculo do papel e lápis, mesmo
sendo pouco significativo para o aluno e demonstrando quase nenhum raciocínio
empregado.
É importante observar que o cálculo mental não exclui a
utilização de papel e lápis, como um registro dos cálculos intermediários. O
registro do cálculo mental possui uma forma específica de ser realizado.
Para o professor o objetivo da resolução das situações-problema
escritas é o registro e análise das formas de raciocínio que estão sendo
processadas pelos alunos, nas situações simuladas de jogo.
[i] GRANDO,
Regina Célia. O jogo na educação: aspectos didático-metodológicos do jogo na
educação matemática. Campinas:
Unicamp, 2001.
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